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P. Duarte da Cunha
Pastoral Social na Europa

É Jesus, o Bom Pastor, que guia, alimenta, cura e acompanha os Seus discípulos, mas é através da Igreja que Ele Se faz presente e nos conduz. Por ser uma acção da Igreja enquanto comunidade, a pastoral precisa de ser organizada e bem pensada. Mas a força da pastoral são as pessoas apaixonadas por Jesus Cristo, movidas pelos mesmos sentimentos que havia em Cristo: amor ao Pai e compaixão pela multidão, que tantas vezes aparece como ovelhas sem pastor. É isso que faz a diferença. E é isso que precisa de ser sempre e cada vez mais recordado.

Um campo muito específico da pastoral é a chamada pastoral social. Por ela entendemos todo o esforço de ir ao encontro dos mais necessitados da sociedade, e todo o empenho em fazer da nossa sociedade uma autêntica casa para todos, com leis justas, com uma cultura de acolhimento, com sensibilidade para com os pobres, os doentes, os que estão sozinhos.

O que se tem feito é imenso. Basta pensar no trabalho das Caritas, o empenho dos Centros Sociais Paroquiais, as centenas de IPSS’s, o empenho político de tanta gente generosa que procura chamar a atenção para o bem comum, os profissionais de saúde, os psicólogos, os assistentes sociais, e muitos outros que movidos pela fé, em obras católicas, inspiradas no Evangelho ou mesmo não-confessionais, procuram levar o olhar e a ajuda de Deus através do seu trabalho sério e competente.

Não tem sido um trabalho em vão! Todos o reconhecem. A par de todo o empenho educativo nas escolas e sobretudo nas famílias, a pastoral social é um enorme sinal do amor de Deus que a Igreja se alegra de empreender. A pastoral social é no mundo, e também na Europa, um facto inegável sem o qual a crise teria já deixado muita mais gente abandonada, com fome e desorientada.

Recentemente, o Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) reuniu em Paris cinco redes de organizações da Igreja presentes em todos ou quase todos os países europeus e empenhados na Pastoral Social: Caritas Europa; Comissão Católica Internacional para as Migrações (ICMC); Centro Europeu para as Questões dos Trabalhadores (EZA), a Comissão Justiça e Paz Europa e a Comissão das Conferências Episcopais junto da Comunidade Europeia (COMECE). Além de contar com a sintonia da União Internacional das Associações Patronais Católicas (UNIAPAC) e Movimento Europeu de Trabalhadores cristãos (ECWM), embora não tenham participado no encontro.

Por um lado, foi possível partilhar o que cada um dos organismos que é membro destas redes faz e é imenso. Por outro lado, foi uma ocasião para partilhar um olhar sobre a situação actual da Europa. Não apenas um olhar sociológico, mas um olhar de fé, porque é este que vê mais profundamente o que está em jogo. Como foi dito no comunicado final desse encontro, a sociedade europeia atravessa uma série de problemas sociais e todos eles estão interligados entre si. A crise demográfica numa Europa que envelhece, o aumento de pobres, o número elevado de desempregados, o aumento do número de migrantes que chegam á Europa fugidos de guerras, ou da instabilidade política ou simplesmente em busca de trabalho para alimentar a família, a fragilidade familiar, as guerras e os ataques à vida, são tudo problemas que não podem ser vistos isoladamente.

Depois deste encontro, ficou ainda mais claro que é absolutamente necessário todos colaborarmos. Foi muito relevante o compromisso de continuarmos a encontrarmo-nos para ter uma visão autêntica do que se passa e um pensamento sobre a realidade social da Europa, e para se saber o que fazer de concreto.

Mas o mais importante foi o testemunho de amor a Cristo e à Igreja que perpassou quer nas pessoas quer no que contaram sobre as suas obras. Aquela antiga separação entre Pastoral Social e Evangelização já não faz sentido e até é perigosa. Tal como perdeu toda a actualidade opor os que cuidam da família ou defendem a vida dos que defendem os trabalhadores porque todos tentam fazer a vontade de Deus e lutam por uma sociedade mais justa, fraterna e humana.

Não há católicos de esquerda ou de direita quando se trata de levar Cristo aos outros e de ajudar quem está em dificuldade. Há católicos sensíveis que sentem os apelos de Deus e dos que sofrem, e há católicos adormecidos que urge despertar!