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Cinquenta dias de alegria

“Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos

escolhi e vos nomeei para irdes e dardes fruto…”. Jo. 15. 16.

 

Nestes cinquenta dias de alegria e de esperança renovada que vão desde a Páscoa até ao Pentecostes, somos levados a dever entender melhor um duplo movimento que, com muita felicidade, o Padre Joaquim Alves Correia (1886-1951) designou como “Deus no Mundo e o Mundo em Deus”. Oiçamo-lo em “De que Espírito Somos?”: “Este movimento de Deus para o Homem completa-se pela continuação do abraço amoroso: o Homem vai abraçar também divinamente a Deus; pelo Homem-Deus, os homens vão ser filhos de Deus: - ‘Aos que recebem o Verbo feito carne deu-lhes Ele o poder de serem feitos filhos de Deus, nascidos não da carne, mas de Deus’. Disse-o, revelou-no-lo o magnífico prólogo do Evangelho Joanino”. Apesar das nuvens carregadas que se acumulam no horizonte, e por causa delas, temos de dar atenção especial à manifestação superlativa do Espírito e ao encontro fecundo que nos leva, enquanto pessoas, a compreender os limites e a força infinita e misteriosa de Deus. Afinal, Paulo disse-nos: “Ninguém pode sequer pronunciar o nome do Senhor Jesus, senão no Espírito Santo” (I, Cor., 12,3). É a esta luz que deveremos assumir, sobretudo em tempos difíceis e sombrios, a nossa missão a um tempo espiritual e temporal, ligando em permanência razão e fé. E, perante a crise profunda que vivemos (de contornos e alcance imprevisíveis), é fundamental que recordemos tudo isto. Quando se comemora solenemente o cinquentenário do Santuário do Cristo Rei é tempo de lembrar a proclamação da “realeza de Cristo, não apenas no coração de cada pessoa, mas na vida e nas estruturas sociais da cidade”. Trata-se, pois, de celebrar o Espírito na sua plenitude, compreendendo a essência da mensagem cristã, sempre lembrada por S. João e centrada no amor. Não um amor abstracto e apenas baseado em palavras, mas um amor sentido de pessoa a pessoa, como expressão desse movimento fecundo e biunívoco de “Deus no Mundo” e do “Mundo em Deus”. Daí que o Centro de Reflexão Cristã, nas Conferências de Maio deste ano, a decorrer todas as quintas-feiras no Centro de Estudos da Ordem do Carmo se tenha proposto reflectir sobre “Esperança e Justiça contra a Crise”, fazendo-o contra o fatalismo da injustiça, das desigualdades e da indiferença. É urgente pôr o dedo nas feridas da economia da ilusão, da sociedade injusta, da desesperança e da crise dos modelos. Daí a necessidade de não esquecermos o apelo solidário e a exigência de uma esperança global.