Doutrina social |
Dia do Trabalhador de 2018
Com os pés na terra
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“Uma nuvem escondeu-O dos seus olhos. E estando com o olhar fito no céu, enquanto Jesus se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: ‘Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu’?” (Act 1,10).

 

Aspirar às coisas do alto ou às da terra?

O autor desta passagem não faz uma reportagem em direto de uma experiência marcante para os discípulos de Jesus; dá a entender que os que O seguiam, a partir desse momento, têm de agarrar nas suas mãos a vida e a missão que ela contém; não podem ficar boquiabertos a olhar para Ele deixando o resto. Esta é a tentação que acompanha os crentes. Por isso S. Paulo, na carta aos Colossenses, exorta-os dizendo: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto… Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra” (Col 3,1). Ao contrário de os convidar a não ver e não se comprometer, sugere a importância de ver a realidade com o olhar daquele que vem do alto, e a fazer cá em baixo o que Ele propõe: pôr em prática a mensagem do capitulo 25 de Mateus.

Podemos hoje cair numa prática de eventos, com muita gente em festa e movimento, deixando um pouco a ideia daquele mundo de fraternidade e de alegria com que sonhamos; mas se calhar todo um outro mundo de “tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (Gaudium et Spes, nº 1) não está na agenda das preocupações, dos debates e partilhas e muito menos dos compromissos na rotina do dia a dia.

 

A pessoa como mercadoria

Nas orientações apresentadas aos membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica a respetiva Congregação Pontifícia, tomando as palavras do “Evangelho da Alegria”, escreve: “Qualquer comunidade da Igreja, na medida em que pretender subsistir tranquila, sem se ocupar criativamente nem cooperar de forma eficaz para que os pobres vivam com dignidade e haja a inclusão de todos, correrá também o risco da sua dissolução” (AE nº 207). Continuando refere a “Gaudium et Spes” que afirma que: “O homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida económico-social” (GS nº 63), ideia corroborada por Bento XVI na “Caridade na Verdade”: “O primeiro capital a preservar e valorizar é o ser humano, a pessoa na sua integridade” (CV nº 25). Também o Papa Francisco se tem recorrentemente referido à “ditadura da economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata” (AE nº 53), uma ditadura que transforma o ser humano num bem de consumo, que se usa e depois se deita fora, numa lógica da “cultura do descartável”.

 

Elites que escravizam

O Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos, na mensagem para o Dia do Trabalhador de 2018, considera que o mundo enfrenta um projeto de destruição, que passa pela concentração da riqueza nas mãos de uma elite burguesa, pela diminuição do poder dos governos, e ainda no ataque aos governos democraticamente constituídos, especialmente nos países em desenvolvimento relativamente aos quais existe uma agenda hipócrita, moralizante e fascista em articulação com a elite económica global. Termina apelando a um não a uma economia de exclusão, não à idolatria do dinheiro, não às desigualdades sociais geradoras de violência.
Entre nós muitos continuam a encarar como tabu a problemática do trabalho e das relações com os diferentes atores em presença. Por isso é boa notícia ver alguns mais velhos com a capacidade de “sonhar” e outros mais novos alimentando “visões” de um amanhã diferente, como falou o profeta (Joel 3,1); persistem em abrir os olhos para o que se passa, em julgar criticamente o que o sistema nos oferece e em sair do sofá para agir em ordem à transformação. Assim, no âmbito do “dia do trabalhador”, a LOC/MTC, em comunicado, compromete-se a continuar a refletir e a denunciar as situações de precariedade e de desigualdades, de forma a recentrar o valor da pessoa para que se sinta realizada pessoal e socialmente através da dignidade no trabalho e na vida. O seu Coordenador nacional lembra que “existe a precariedade porque a sociedade, a economia está organizada para isso”. A presidente nacional da JOC congratula-se com a maior participação dos jovens católicos na luta pelos seus direitos e denuncia as pressões a que estão sujeitos no mundo do trabalho. O diretor nacional do Apostolado do Mar afirma que os detentores de autoridade deveriam identificar-se mais com as dificuldades dos pescadores. São vozes no deserto quando um clamor geral se deveria ouvir.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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