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P. Manuel Barbosa, scj
Cuidar, rezar, esperar

Estamos a passar tempos muito difíceis e dolorosos. O coronavírus está a revirar a vida de todos e de cada um de nós. Afetados ou não, ninguém fica apartado desta enorme preocupação e permanente ocupação na defesa da saúde e da vida.

As decisões que a Igreja está a tomar, também em Portugal pela conferência episcopal e pelas dioceses, em particular a suspensão das celebrações comunitárias das Missas, não nos deixam indiferentes, até porque tocam o cerne da prática da vida cristã, sobretudo a participação presencial na Eucaristia dominical.

Cuidar, rezar e esperar são atitudes, além de outras certamente, que devem ser responsavelmente assumidas por todos nós e entrelaçadas na sua íntima conexão.

Cuidar é prevenir, estar atentos, mudar comportamentos e mentalidades, antecipar decisões face a previsíveis cenários catastróficos, cumprir e seguir as orientações das autoridades de saúde, estar em consonância com as determinações das conferências episcopais e das dioceses, ser solidários com todos a começar pelos vizinhos mais próximos… e muito mais se poderia ajuntar a este elenco.

Cuidar é rezar a Deus Pai, Criador do mundo e misericordioso, pedindo-lhe ajuda, conforto e salvação, para que nos livre da doença e do medo, cure os nossos doentes, conforte os seus familiares, dê sabedoria aos governantes, energia e recompensa aos médicos, enfermeiros e voluntários, vida eterna aos defuntos. Com a preciosa intercessão de Santa Maria, Mãe da saúde e da esperança. São alguns elementos de uma belíssima oração dos bispos da Europa.

Abundam no ambiente digital subsídios de orações, meditações, reflexões e, sobretudo, inúmeras propostas diárias de celebrações em direto da Santa Missa e do Rosário. Tudo centrado em Jesus Cristo eucarístico e na Palavra de Deus. Sabemos que tudo isso não substitui a nossa participação efetiva na Eucaristia, centro da vida cristã, mas cuidar nesta fase em que estamos passa também por celebrar deste modo. Seja a oração pessoal e em família, seja o acompanhamento das celebrações pela televisão, rádio e outros meios digitais possibilitam uma maior proximidade com Jesus Cristo, Palavra viva para a nossa vida.

Deste modo, mesmo sem a participação do povo, não deixamos de ter a Eucaristia celebrada e adorada através destas transmissões quotidianas de Missas celebradas em privado pelo Papa, pelos bispos e pelos sacerdotes. Como diz D. José Cordeiro, responsável pela Liturgia em Portugal, a suspensão da celebração comunitária das Missas “é uma experiência nova”, mas é uma medida necessária para “guardar o bem maior”. Cuidar é rezar para guardar esse bem maior, a vida que recebemos de Deus Pai Criador.

Cuidar é esperar, nunca de modo passivo e resignado, mas sempre em esperança: ser ativos, corajosos, responsáveis, empenhados, solidários… A esperança é dinamismo evangélico do Espírito de Jesus Cristo. Cabe bem aqui o dito popular “quem espera sempre alcança”. Para alcançar o fim da pandemia do coronavírus, contamos certamente com o precioso e abnegado trabalho dos médicos, enfermeiros e voluntários, que se dedicam até à exaustão nesse combate. Contamos com eles de modo eternamente agradecido, contamos igualmente com a atitude responsável de todos e cada um de nós, cuidando, rezando, esperando.

A meio da Quaresma, atingidos por esta trágica calamidade, cuidemos, rezemos, esperemos: atitudes para serem vividas na conversão e na reconciliação, no sofrimento e na esperança, na expetativa e na alegria da Luz pascal. Não há Quaresma sem Páscoa: cuidemos para que assim seja na confiança abençoada por Deus, no cuidado de nós mesmos e na proximidade dos outros seres humanos.

Finalizo com palavras do Papa Francisco num recente twitter: “Convertei-vos, isto é, mudai de vida (Mt 4,17), porque começou um modo novo de viver. Acabou o tempo de viver para si mesmo, começou o tempo de viver com Deus e para Deus, com os outros e para os outros, com amor e por amor”.