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Quantas vezes?
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DOMINGO XXIV COMUM

“Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?Mt 18, 21

 

Os números estão em todo o lado. Da contagem do tempo às listas de tarefas precisamos da aritmética e da matemática para a vida. Vivemos estes dias de pandemia na expectativa dos números anunciados de infectados e recuperados, de falecidos e internados. Pode-se, sobre os números, tecer as mais variadas hipóteses, teorias, projecções, contabilidades. Mas ainda que as pessoas se possam contabilizar, ter incontáveis números, de cidadão, de contribuinte, de segurança social, de clube, de carta de condução, nunca se podem reduzir à frieza de números.


Somar, diminuir, multiplicar e dividir são as regras fundamentais do cálculo. Usamo-las quase por intuição e são necessárias para a vida quotidiana. A própria Bíblia está cheia de números: 7 dias da criação, 10 mandamentos, 12 tribos de Israel e 12 apóstolos, 40 anos de êxodo, 40 dias de jejum de Jesus no deserto, ao 3.º dia, 5 pães e 2 peixes, 30 moedas de prata, 50 dias de Páscoa, 3 pessoas divinas… E a lista podia continuar. Cheios de simbolismo, os números bíblicos suscitam um aprofundamento. E dentre eles sempre me impressionou aquele que Jesus responde à pergunta de Pedro se devia perdoar o irmão que o ofendeu, até sete vezes. “Não te digo até sete vezes… (ah! Jesus sabe como seria difícil para nós!...) mas até setenta vezes sete (O quê? Impossível! Ninguém conseguirá isso!)”.

 

No perdão, como no amor, somos convidados a não contabilizar, a vivê-los sem medida, como faz o Pai dos Céus. Na contabilidade da parábola que nos conta, Jesus apresenta a grandeza inimaginável da dívida de alguém que é perdoada pelo seu senhor, em contraponto com a dívida insignificante que este não é capaz de perdoar a um companheiro. O perdão e o tempo parecem interligar-se: perdoar é também dar tempo antes de pôr termo a uma relação ou aprisionar o outro num julgamento definitivo. É mesmo um longo tempo, 70 x 7, indicado por Jesus, não marcado pelo relógio mas pelo coração. Trata-se de dar peso à vida do outro e dos seus, abrir um futuro onde um espírito justiceiro só vê grades de prisão. O contraste entre o tempo de Deus e o do servo impiedoso é significativo: os dois não dão tempo: o primeiro para salvar e mostrar que nenhuma dívida é maior do que o amor que tem para dar; o segundo para condenar, mostrando a ingratidão pelo dom recebido e a ganância sem compaixão que mata.

 

Quantas vezes devemos perdoar? Todas as que forem necessárias para permitir a cada um reconstruir, no tempo, uma nova percepção da sua vida e dos outros. Entre os judeus era conhecido um “Cântico de vingança” de Lamec, um lendário herói do deserto que dizia assim: “Caim será vingado sete vezes, mas Lamec será vingado setenta vezes sete.” Diante dessa cultura da vingança sem limites, Jesus canta o perdão sem limites entre os seus seguidores. Perdoar é recriar, possibilitar o novo onde o velho julgava escrever o destino. Traz liberdade e alegria a quem perdoa e contraria a lógica contabilista que procura medir tudo. Mas não pode medir a alma de um homem, que tem cotação máxima no coração de Deus!

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