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Delegada de Lisboa analisa 52.º Congresso Eucarístico Internacional, em Budapeste, Hungria
“A Eucaristia é fonte de unidade”
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Isabel Alçada Cardoso foi uma das delegadas de Lisboa no 52.º Congresso Eucarístico Internacional, que decorreu de 5 a 12 de setembro, em Budapeste, e ao Jornal VOZ DA VERDADE resume os dias em terras húngaras, deixando a certeza de que “a Eucaristia une, é fonte de unidade”. “Como diziam os oradores, a Eucaristia é esta fonte de vida, fonte de missão”, frisa.

 

Estudiosa do cristianismo antigo, Isabel Alçada Cardoso participou pela primeira vez num Congresso Eucarístico Internacional (CEI) e não podia estar mais satisfeita com os dias vividos em Budapeste, Hungria. “Não só do ponto de vista formativo, como do ponto de vista espiritual, percebemos durante o congresso que a Eucaristia une, é fonte de unidade. Há esta comunhão na diversidade, e que, de alguma forma, a Eucaristia une, tem a mesma linguagem, é com o mesmo espírito, os mesmos gestos, portanto, é esta fonte de unidade. Como diziam os oradores, a Eucaristia é esta fonte de vida, fonte de missão. Isto, para mim, foi totalmente evidente”, partilha esta leiga, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

De regresso ao nosso país, Isabel diz mesmo que se sentiu “muito provocada” neste congresso. “Mesmo com os testemunhos face à pandemia e às dificuldades, percebe-se que aquilo que nos une é verdadeiramente a Eucaristia, é Cristo, e Cristo através daquilo que nos mandou fazer, que é a Eucaristia. Pessoalmente, é um grande desafio para este início de ano letivo e ano pastoral, de olhar as coisas com estas perspetivas que brotam da Eucaristia, nos ramos da bondade, da paz, da paciência, da esperança e da fé, como de facto tudo brota e se renova e reinicia na Eucaristia”, acrescenta.

 

Superar expectativas

A 52.ª edição do Congresso Eucarístico Internacional, de 5 a 12 de setembro, teve como tema ‘«Todas as minhas fontes estão em Ti» (Sl 87,7). A Eucaristia, fonte da vida e da missão da Igreja’ e contou com delegações de vários países, incluindo uma comitiva portuguesa de 26 pessoas, liderada pelo presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, D. José Cordeiro. Isabel Alçada Cardoso e o padre Luís Leal foram os dois representantes do Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa no congresso na capital húngara. “Esta semana excedeu todas as expectativas. Completamente. Parti integrada num grupo em que conhecia algumas pessoas, mas a maioria não conhecia, e ia preparada com a curiosidade e sabendo que quem participou tinha feito uma boa experiência nos Congressos Eucarísticos”, esclarece Isabel, garantindo que, “do ponto de vista da organização, quer portuguesa, quer do congresso, há muito tempo que não fazia a experiência de organizações tão cuidadas, a todos os níveis”. “Tenho de destacar o cuidado total e a preocupação contante do senhor D. José Cordeiro por todos, para que nos sentíssemos bem e estivéssemos a fazer uma boa experiência”, observa.

Do ponto de vista do próprio Congresso Eucarístico Internacional, a delegada de Lisboa sublinha que “tudo estava previsto”. “Os horários e os ritmos eram humanos. Começávamos cada dia com as Laudes, depois tínhamos uma catequese, um testemunho e depois a Missa, com as respetivas pausas. À tarde, havia os workshops – o que eles chamavam de programa facultativo –, com quatro conferências, onde cada um escolhia a sua participação. Nós dividíamo-nos e, ao fim do dia, conversávamos sobre as sessões onde tínhamos participado e trocávamos experiências e até os papéis que tinham sido dados. Foi tudo muito interessante”, frisa Isabel, não esquecendo igualmente o “programa cultural” associado à iniciativa. “Eu nunca tinha estado na Hungria, e em particular em Budapeste, e de facto a parte cultural foi também muito cuidada, quer na parte do congresso, quer na parte da organização portuguesa”, garante.

 

A força dos testemunhos

Na semana do CEI, cada dia estava centrado num tema: a bondade, a paz, a paciência, a esperança e a fé. O sábado, dia 11, foi o dia das famílias e no Domingo teve lugar a Missa de encerramento, com o Papa Francisco. Da semana de congresso, Isabel Alçada Cardoso destaca precisamente a força dos testemunhos, que “eram fundamentais”. “Estávamos ali, num país que, podemos dizer, é o centro da Europa, onde se cruzam países e há um cruzamento entre a Europa do Ocidente e a Europa do Oriente. Um país que atravessou uma história de um país imperial, que depois vai ficar a fazer parte do bloco da União Soviética e que também sofreu toda essa dificuldade, mas que se vem levantando. Foi muito impressionante ouvir um bispo de um país do leste europeu, que deu um testemunho de sofrimento – como seminarista e depois também já ordenado –, e que valorizava a questão da paciência, de como estar diante da realidade com paciência”, partilha a delegada de Lisboa.

Isabel lembra ainda o testemunho de uma biblista. “Uma senhora biblista dizia como, de facto, a paciência é importante até para o perdão. Dizia ela que o perdão obriga a largar, a deixar, e isso só é possível com a oração. A biblista convidou a pedir pelos inimigos e até fez uma oração connosco”, recorda esta leiga, não esquecendo também o “testemunho impressionante” de um bispo de Myanmar, que mais tarde se encontrou com a delegação portuguesa. “Ele fez uma festa enorme aos portugueses, a agradecer-nos e a dizer-nos: ‘Nós somos cristãos porque vocês estiveram lá!’. Foi muito engraçado e muito marcante”, conta.

 

Um ‘encontro’ especial

Um dos pontos altos do 52.º Congresso Eucarístico Internacional era a Missa de encerramento, na manhã do passado Domingo, 12 de setembro, presidida pelo Papa Francisco, e com um coro de dois mil elementos. “Foi uma Missa belíssima, com todo o cuidado”, salienta, desde logo, Isabel Alçada Cardoso, sublinhando as palavras do Santo Padre: “A Missa teve esta provocação de ter no centro da nossa vida a Eucaristia. Porque de facto, como diz o salmo, todas as minhas fontes estão em Ti. Da Eucaristia tudo brota, tudo pode recomeçar”.

A delegada de Lisboa partilha ainda um episódio que teve lugar após a celebração: “A mim, tocou-me especialmente, porque tive ocasião de dizer ao Papa, gritando em italiano, quando ele passou no carro e parou diante de nós, portugueses: ‘Obrigada pela sua vida e pelo seu ministério’. E ele ouviu-me e olhou-me! O olhar do Papa Francisco atravessou o meu coração”, assegura esta leiga, não esquecendo, neste momento de avaliação, um sacerdote, o ‘seu’ pároco da Sé, falecido em 2020, e que a desafiou a participar neste congresso: “Bem razão tinha o cónego Luís Manuel em insistir comigo para participar num Congresso Eucarístico, porque foi de facto uma experiência única”.

 

“Eucaristia congrega todos”

O delegado da Conferência Episcopal Portuguesa ao 52.º Congresso Eucarístico Internacional elogiou a experiência vivida na Hungria. “Experimentámos a comunhão na diversidade e sentimo-nos como um grupo de pertença à Igreja na sua totalidade”, referiu D. José Cordeiro, em declarações enviadas à Agência Ecclesia, pelo Secretariado Nacional de Liturgia.

O prelado, que é Bispo de Bragança-Miranda, destaca a experiência de contacto com as línguas eslavas e outras tradições, numa cidade, Budapeste, que está “na encruzilhada da Europa”. “É belo, porque a Eucaristia nos congrega a todos, coloca-nos em volta do altar, a falar a mesma linguagem”, observou, garantindo que a organização “ultrapassou as expectativas”, ajudando a viver um congresso, “na cidade das fontes e das pontes”, em que Portugal e, sobretudo, Fátima, foram sempre vistos com muita admiração. “É comovente ver a devoção deste povo a Nossa Senhora de Fátima”, admitiu D. José Cordeiro, sublinhando ainda que a Missa conclusiva do CEI, presidida pelo Papa Francisco, foi um “culminar extraordinário” do congresso.

 

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“Deixemos que o encontro com Jesus na Eucaristia nos transforme”

Na Missa de encerramento do 52.º Congresso Eucarístico Internacional, que decorreu em Budapeste, de 5 a 12 de setembro, o Papa Francisco convidou os cristãos a abrirem-se “à novidade escandalosa de Deus crucificado e ressuscitado”. “Queridos irmãos e irmãs, deixemos que o encontro com Jesus na Eucaristia nos transforme, como transformou os grandes e corajosos Santos que honrais: penso em Santo Estêvão e Santa Isabel. À semelhança deles, não nos contentemos com pouco; não nos resignemos com uma fé que vive de ritos e repetições, abramo-nos à novidade escandalosa de Deus crucificado e ressuscitado, Pão partido para dar vida ao mundo. Viveremos na alegria, e seremos portadores de alegria”, assegurou o Papa, na homilia da celebração, perante cerca de 100 mil pessoas, segundo as autoridades húngaras.

Na Praça dos Heróis, que o Papa percorreu de papamóvel, Francisco sublinhou que “caminhar atrás de Jesus é dirigir dia a dia os nossos passos ao encontro do irmão”. “A isto mesmo nos impele a Eucaristia: a sentirmo-nos um só Corpo, a fazermo-nos em pedaços para os outros”, reforçou o Papa, desejando que o 52.º Congresso Eucarístico Internacional seja “um ponto de partida”, pois “o caminho atrás de Jesus convida a olhar para a frente”, terminou.

 

Anunciar o Evangelho libertador da ternura

Na oração do Angelus, que se seguiu à Eucaristia, o Papa Francisco deu “graças com todo o coração” e renovou a sua “gratidão às autoridades civis e religiosas” que o acolheram. “Gostaria de dizer köszönöm [obrigado]: obrigado a vós, povo da Hungria”, disse o Papa, desejando “que a cruz seja a vossa ponte entre o passado e o futuro”. “O sentimento religioso é a seiva vital desta nação, tão afeiçoada às suas raízes. Mas a cruz plantada no solo, além de nos convidar a que nos enraizemos bem, ergue e estende os seus braços a todos: exorta a manter firmes as raízes, mas sem entrincheiramentos; a beber nas fontes, abrindo-nos aos sedentos do nosso tempo. O meu desejo é que sejais assim: alicerçados e abertos, enraizados e respeitadores. Isten éltessen [felicidades]! A «Cruz da Missão» é o símbolo deste Congresso: que vos leve a anunciar, com a vida, o Evangelho libertador da ternura sem limites de Deus por cada um. Na atual carestia de amor, é o alimento que o homem espera”, garantiu Francisco.

 

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Cultura eucarística

Na Festa da Natividade da Virgem Santa Maria, a 8 de setembro, D. José Cordeiro presidiu à Eucaristia em língua portuguesa na Igreja de São Ladislau, em Budapeste, e convidou a uma cultura eucarística. “O Papa Francisco impele-nos a uma cultura eucarística, onde se evidenciem as atitudes: da comunhão, do serviço, da misericórdia: «capaz de inspirar os homens e as mulheres de boa vontade nos âmbitos da caridade, da solidariedade, da paz, da família, do cuidado da criação»”, citou o delegado da CEP ao 52.º Congresso Eucarístico Internacional.


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JMJ Lisboa 2023 será “grande sinal de esperança”

O Arcebispo de Budapeste, e primaz da Hungria, espera “poder participar” na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que, após a pandemia, vai ser “um grande sinal de esperança”. “Estive presente na Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, com o Papa Francisco. Foi um acontecimento inesquecível. Espero que em Portugal aconteça o mesmo, até porque depois da pandemia será um grande sinal de esperança, um grande sinal de que Cristo nunca nos abandona”, referiu, em declarações à Renascença, o cardeal Péter Erdö.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Delfim Machado/SNL
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