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Pe. Alexandre Palma
Activismo

Será uma das grandes doenças do nosso tempo e estilo de vida. Por vezes somos seus agentes activos: fazemos da acção o foco do nosso viver. Empenhamos tudo o que somos e mobilizamos quanto está ao nosso alcance para fazer acontecer. Somos crentes piedosos da religião da acção. Outras vezes somos seus sujeitos passivos: sentimo-nos esmagados pela ditadura da agenda. Experimentamo-nos peças de uma engrenagem que nos ultrapassa e despersonaliza. Somos súbditos de um regime que nos domina. Será isto o activismo. Ele é a consequência natural de um mundo que privilegia a eficácia; de uma cultura que valoriza a produção; de uma economia que promove o consumo; de um tempo que se faz imediato. Sendo esta a nossa atmosfera, ela permeia todos os recantos do nosso viver. Desde o ambiente familiar ao meio profissional. Desde os ritmos de lazer às demais dinâmicas sociais. Desde os projectos comuns às trajectórias individuais.

Não espanta que a isto não esteja imune a vida eclesial. Também esta exposta às virtualidades, mas também às armadilhas desta obsessiva cultura da acção. Neste caso, agudizada talvez por outros factores: a grandeza da sua missão; alguma escassez de recursos; uma dificuldade (ou relutância) em repensar a sua organização. Quando o mesmo trabalho é dividido por menos, aumenta a pressão da agenda e a necessidade do fazer. Assim, alimenta-se na prática esse enfoque na acção que as nossas análises de princípio criticam.

O cultivo da vida espiritual é com frequência prescrito como antídoto para o activismo. E bem. A oração e o silêncio, o parar e o estar, sobretudo o encontro com Deus que nos transcende e eleva são hoje gestos revolucionários, porque profeticamente contra a corrente de todos os dias. Um corte na rotina tão desejado quanto necessário. Um bálsamo para quem se sente sucumbir perante a voragem das agendas e dos dias. Todavia não é só isto que falta numa sociedade da acção. Falta também estudo e reflexão. Julgo que precisamos de o acrescentar, especialmente porque menos vezes reconhecido. Desde logo, porque o tempo acelerado e consumido na excitação da acção captura a tranquilidade de que o estudo e a reflexão sempre precisam. Mas sobretudo porque um agir não fundamentado (sem estudo) e irreflectido (sem reflexão) dificilmente alcançará o seu objectivo. E mesmo se, por milagre, o conseguir será à custa da nossa exaustão. Eis porque me parece ser este um antídoto esquecido para o activismo. Talvez que o problema até nem esteja no tanto agir, mas num modo imponderado de o fazer que nos expõe desnecessariamente ao cansaço e à frustração; nos lança na espiral descendente do activismo. No fundo, pensar antes de agir continua a ser um óptimo conselho.